31 textos

14.9.05

#32

Dungen é uma banda sueca que canta músicas em sueco. Faz um legítimo som psicodélico progressivo, com ótimas músicas e rock de primeira. O grande problema é o sueco. Não dá pra cantar junto com sueco.

Para solucionar o problema, peguei a principal música deles atualmente (chamada "Panda"), e criei umas letras em inglês para a música, contando a história de um urso panda...

Ficou assim:

Fire poked alone
Later I'll poke it in hell.
Charming yet so mean.
I ain't joking, you'll see...

I like hunting, mauling
and killing for food.
Shoplifting the stores
just to prove that I am a bear.
With long claws...
And bluntly evil eyes.
Might not look mean,
but I'll kill you,
believe me.

Poor marsupial dude...
What the hell is this?
I'm a Panda Bear!
And I stand so tall!

I like hunting, mauling
and killing for food.
Shoplifting the stores
just to prove that I am a bear.
With long claws...
And bluntly evil eyes.
Might not look mean,
but I'll kill you,
believe me.

Recomendo a todos ouvirem a música... que pode ser obtida no site deles. E depois, se sentirem inspiração, façam suas próprias versões para "Panda".

31.7.05

#31

Se o primeiro texto era uma introdução, uma apresentação da proposta, é natural que este último seja uma conclusão, um fechamento. Contando com este temos aqui 31 textos, escritos em 31 dias. Tudo bem, alguns foram textos antigos, alguns foram apenas fragmentos de textos, mas o que importa é que no final obtive minha meta de 31. Acho que é óbvio que me forcei a escrever algumas vezes, e muitas vezes terminei publicando o texto sem necessariamente gostar do resultado final.

No entanto, a proposta era para ter o escrever como exercício. Acho que nisso deu certo -- pratiquei diferentes idéias que tive, e quando não tive idéias em termos de conteúdo, procurei exercitar o estilo. Nem sempre o produto final foi bom, mas acredito que serviu para mim, como prática se não mais que isso.

Algumas pessoas leram os textos, citaram alguns que gostaram e fizeram comentários vagos sobre a idéia em geral. Poucas críticas, acho que por pura bondade das poucas pessoas que leram. Também tenho meus prediletos entre os 31, e mesmo ao reler os que menos gostei de produzir consigo achar algo positivo neles.

Resta então aquela dúvida, básica e mortal... Seguir ou não adiante. Nas tentativas que já fiz de tentar manter um blog ativo, não consegui mantê-lo... Mesmo quando tive muito tempo em minhas mãos. Este mês foi, no entanto, um mês singular. Me envolvi com certos projetos, com certas idéias, que antes não conseguiriam minha concentração. O maior desafio continua sendo achar um conteúdo para o blog que não seja o meu banal cotidiano. Me recuso a escrever um blog descrevendo meu café-da-manhã, ou até mesmo narrando uma anedota interessante do dia. Até aceito uma ocasional escrita sobre momentos da vida presente, mas não quero nunca tornar este um hábito diário. Me proponho e me desafiar e continuar buscando mais longe as fontes para meus textos. No passado, na minha imaginação, na discussão de temas universais.

Enfim, com já deve ter se tornado meio óbvio, quero voltar amanhã ou depois para escrever o 32º texto. E depois o 33º e por aí vai. Não vou manter o ritmo de Julho, por que isso seria insano dado o meu dia-a-dia normal, que vai ficar ainda mais congestianado devido aos projetos já mencionados. Mas continuarei postando, neste mesmo endereço. Espero que os poucos que por aqui passaram voltem ocasionalmente para ler, e quem sabe até comentar. Se eu ao menos acreditar nisso, este inicialmente breve blog pode ter uma bela longevidade. Até lá!

#30

Abro a porta e entro na sala no final do corredor. Assim que entro acende-se uma forte luz na sala que antes parecia ser escura. Tão forte esta luz que por alguns momentos me ofusca, cegando minha visão e me dando um certo medo. Naqueles poucos segundos de cegueira pensei em tudo que havia acontecido antes. A conta bancária vazia, o senhorio bravo, a placa no poste, o portão negro, a fila enorme, as mãos me cumprimentando na sala escura, o longo corredor corporativo... Nada daquilo me dava alguma segurança. O medo foi aumentando conforme fui recuperando a visão, e os borrões na minha frente foram tomando forma.

Havia uma mesa, e cadeiras em volta delas. Sentado na mesa estava no gato branco, se lambendo, exibindo a elasticidade. Sentado ao lado dele, o homem-barata, com aquele moleton azul marinho velho e sujo, aquela barba rala e sorriso de dentes amarelos. Pendurado no teto, o imperador-corvo ouriçava as penas negras, reluzindo na luz fluorescente. Atrás de mim, a porta se fecha. Nem tento abrí-la; sei que estou preso e à mercê de meus algozes.

Fecho os olhos e dou um passo para frente. Mesmo de olhos fechados sei que eles se olham sorrindo, tramando o meu fim. Não demorou muito para eu sentir as unhas penetrando em minha carne, as perninhas duras caminhando sobre meu corpo, o bico afiado perfurando minha pele... Evito gritar de dor, mas não consigo. Apenas mantenho os olhos fechados e espero ou a dor ser tão grande para eu perder a consciência ou eles simplesmente pararem. A primeira opção prevaleceu.

O tempo para mim deixa de existir. Não sei quantificar quanto dele se passou, e nem me importa. Acordei em uma poça seca de meu sangue, com pequenas tiras de carne e pele espalhadas em volta. Meu corpo dolorido já cicatrizava, e ao menos segurava dentro de mim todo o sangue e linfa. Levanto-me, e noto que estou na mesma sala, mas agora a porta está aberta. Em cima de mesa, pilhas e pilhas de dinheiro -- notas de um, dez, vinte, cem reais, todas organizadas em bloquinhos. Ao lado delas, uma notinha dizendo: "Bom trabalho. Ligaremos quando preciso." Voltei para casa com o dinheiro, paguei o senhorio, e mantive a linha telefônica desocupada.

29.7.05

#29

As estrelas e a lua apareciam livremente naquela noite. Brancas, pareciam reluzir de pura inocência dada a distância entre nós e elas. Qualquer coisa tão longínqua, tão fora do alcance do homem, só poderia vir da pureza. Eram estas as luminárias que nos cercavam. Em alto-mar, com a escuridão em todos os horizontes, somente olhando para cima conseguíamos ver algo além de nós mesmos. Não havia luz artificial acesa, somente o nossos olhos e o barulho do mar. As vezes algo ululava de longe, mas nada que pudesse nos assustar. Apesar de parados e quietos, estávamos mais vivos que nunca. Ao mesmo tempo, sentíamos estar mais perto da morte do que nunca.

Náufragos já a três dias, estávamos à deriva e à mercê dos ventos e correntezas. A bateria elétrica do bote de salvamento, que estupidamente gastamos alimentando um motor que achávamos que nos levaria à alguma costa, havia-se esgotado naquela manhã. Ainda tinhamos os suprimentos, racionados ainda com lógica. O desespero não havia tomado conta de nós ainda -- não, este viria mais tarde. Éramos oito, desde o naufrágio. Ninguém havia morrido ainda, desde o naufrágio. Procurávamos não nos concentrar na perda tão recente, nos amigos e familiares mortos -- queríamos encontrar forças para seguir vivendo. Então fizemos um pacto de sobrevivência, e nos organizamos. Montamos turnos de vigia -- duas horas cada dupla, por que sozinho alguém dormiria -- e ficamos olhando o horizonte tanto quanto podíamos, a procura de silhuetas embaçadas de terra ou embarcações durante o dia, e de luzes durante a noite. Guardavamos os sinalizadores para quando avistássemos algo. Eles eram nossa esperança, a possível salvação, nossa resistência contra o desespero. Eles e os suprimentos, que certamente durariam algumas semanas dentro de nosso racionamento.

Nas setenta e duas horas que se passaram perdemos a total noção de onde estávamos -- muito provavelmente nunca nem sequer soubemos ao certo. Nenhum de nós sabia muito de navegação, e com este fato em mente, tentávamos não bolar planos mirabolantes de cálculos para sabe aonde estávamos ou para que lado iríamos. Enquanto tinhamos bateria, seguíamos para o norte de acordo com a bússola e com as estrelas. Mas não sabíamos se a terra mais perto estava ao norte, ao sul, à leste ou à oeste. Eramos turistas, queríamos nos divertir e nos descontrair. Não estávamos preparados para a sobrevivência.

Restava então curtir aquilo. Os dias eram longos e àrduos, com o sol forte secando nossas peles nos ferindo, mas as noites eram maravilhosas. A brisa do oceano era um pouco forte, é verdade, mas o céu era um espetáculo sem igual. Quando acordados, procurávamos estrelas cadentes, e a encontrávamos facilmente. Com cada uma, o mesmo desejo -- sair dali com vida e poder contar aquela história. Assim como as estrelas e a lua, tão distantes, éramos inocentes. Tínhamos esperança.

#28

(começo de algo longo...)

Havia sido uma batalha horrenda. Horrenda e gloriosa. Foi o tipo de batalha que faz reis dos vencedores e honra os perdedores com a memória de nela terem lutado. O tipo de batalha que semeia a inspiração de menestréis, e se transforma em belíssimos versos que são cantados em cortes e praças públicas pelo remanescer da história. O tipo de batalha que com o passar dos tempos ganha o brilho do luar, apesar de ter sido lutada em plena Lua Nova; dá meio metro de estatura a cada sobrevivente; é acrescentada de atos heróicos a cada vez que é contada e ganha importâncias, motivos e conseqüências nem sequer imaginados por aqueles que a lutaram. Enfim, foi uma batalha épica, como muitas outras batalhas, e cujos simples horrores foram esquecidos em nome da poesia e do orgulho.

O resultado final da batalha, quem perdeu ou quem se tornou vitorioso, não nos interessa. Interessa, sim, saber que neste reluzente conflito lutaram homens que entregaram os destinos nas mãos de Odin, Deus dos deuses, e um grande apreciador do sangrento e do épico. Que esta, como todas as batalhas lutadas em nome de Odin, terminou com o sagrado ritual das Valquírias, que passam pelos campos de findas lutas e colhem as almas dos findos guerreiros e as entregam ao próprio Odin, que como Deus dos deuses se alimenta de almas e sacrifícios à ele dedicados. E que, seguindo a tradição de uma Valquíria por vida perdida, 103 semi-deusas montadas em feras aladas desceram aos campos de guerra e colheram, uma por uma, as almas desincorporadas naquela batalha. Interessa saber, enfim, que uma destas almas colhidas pertencia a Njorn Nummisson.

* * *

Njorn Nummisson era um guerreiro recatado. Na verdade, nem se considerava um guerreiro, pois a verdadeira perícia de Njorn se encontrava no arco e flecha. Guerreiros, para ele, eram aqueles que se banhavam com o sangue inimigo durante a batalha. O arco era uma arte de precisão, e requeria completo esforço mental além do bruto físico. Ele tinha 22 anos de idade, completados a pouco mais de dois meses antes do dia da batalha mencionada. Dos 22 anos e dois meses de vida completos por Njorn, mais de 18 se passaram com um arco em mãos. Desde que teve força e coordenação mínima para segurar um arco e flecha, Njorn foi forçado a treiná-los. Aos doze anos, com quase oito anos de prática no arco, já era considerado o melhor arqueiro da região, e recebia convites para ingressar as embarcações guerreiras que seguiam em expedição para terras no sul e no oeste. Quando tinha quatorze, Nummis Svedson, pai de Njorn, o vendeu para uma destas embarcações, que de fato foi uma das mais vitoriosas de toda a história nórdica não somente pela qualidade de Njorn como arqueiro, mas pela qualidade de todos os homens nela presentes. Nos oito anos em que pertenceu à esta embarcação, Njorn aperfeiçoou cada vez mais a especialidade, tirando muitas vidas inimigas e ganhando o respeito de companheiros, assim como de adversários. Nesta última batalha, no entanto, foi pego de surpresa. Os inimigos atacaram durante a noite, e não houve tempo de posicionar os arqueiros. que também seriam inúteis em uma batalha noturna em que a luz do luar se recusou a aparecer. Njorn se vira obrigado a pegar uma espada para lutar. Ele era competente com espadas – havia treinado muito para tais ocasiões – mas nunca tinha lutado contra inimigos de verdade usando a espada como instrumento de guerra, ao invés do arco e flecha. Mas, como obrigação, pegou a espada e lutou. No escuro da noite, se banhou pela primeira vez com o sangue do oponente, se mostrando um valoroso combatente também com a espada. E tirando vida por vida, se descobriu como guerreiro, clamando o nome de Odin cada vez que outro corpo caía pelas lâminas de sua espada. No entanto, a glória de guerreiro logo cedeu lugar ao terror da batalha. A última vida que tirou foi a de um jovem, que para melhor lutar no escuro se equipou de uma tocha acesa (usada também para trocar golpes com inimigos). Quando Njorn lhe penetrou com a espada já coberta pelo sangue alheio, o jovem trouxe a tocha para perto de seu rosto, e Njorn pode ver aquilo que nunca havia visto antes – a vida do inimigo se esvaindo, as esperanças e os ideais partindo das jovens feições e a simples dor e o horror da morte entrando no corpo que perdia a rigidez e a imponência. A visão da morte face a face aterrorizou Njorn por alguns segundos, e o perseguiu pelo resto da vida. Só que, devido a distração em meio a batalha, o resto da vida e os alguns segundos se tornaram iguais, e assim Njorn morreu na batalha contra o inimigo.

Alguns segundos não são o suficiente para mudar muita coisa na vida de um homem, mas foram suficientes para mudar bastante na morte de Njorn. Nestes poucos instantes entre ver a morte de outro e encontrar a própria, Njorn jurou, por Odin, que dedicaria a alma à vida e ao amor. Um nobre pensamento, que certamente teria sido mantido tivesse Njorn sobrevivido.

* * *

Valquírias não possuem nomes próprios – são como uma, mas ao mesmo tempo são todas individuais. São semi-deusas cada uma delas, mas existem apenas a serviço de Odin. São espíritos, pois não poderiam colher almas se não os fossem, e sendo espíritos, são livres de sentimentos. No entanto, às vezes, por um capricho do próprio Odin, espíritos sentem. Foi o que aconteceu quando uma delas colheu a alma de Njorn. A Valquíria sentiu.

28.7.05

#27

As vezes, para ser levado a sério, coloco o meu lado empreendedor para fora; exteriorizo o executivo dentro de mim. Visto o paletó e a gravata, evito as dobras amassadas e os descuidados, aliso os fios de cabelo e deixo-os engomados, totalmente em ordem. Me tranformo em um perfeito escravo corporativo, de alma vendida para tornar o mundo mais produtivo, mais comprável e principalmente mais vendável. E, curiosamente, assim as pessoas me escutam; assim minhas idéias repercutem; assim consigo ter na sociedade a influência que quero ter.
O que a sociedade não sabe, no entanto, é que por debaixo da gravata, do paletó e da camisa passada continuo vestindo aquela camiseta furada do Led Zeppelin. Posso andar sorrindo e ter a postura reta; parecer um vencedor para o mundo. Mas sempre continuarei tocando air guitar aos riffs de Jimmy Page.

#26

Um samurai deve segurar com força a espada.
Deve ter em todos os momentos controle da arma e mãos.
A lâmina deve sintonizar com o corpo do samurai.
A ponta afiada é como a última extremidade do guerreiro;
quando penetra ou mesmo quando risca levemente os oponentes,
tudo que a espada toca o samurai sente.

A caneta, no entanto, não tem a mesma relação com o escritor.
Conecta-se com a alma, e não com o corpo dele.
Muitas vezes o escritor não tem nenhum controle sobre o que escreve.
Ao contrário da espada, é a caneta que sente o escritor;
ela que exterioriza o que está dentro dele.

Se a espada serve para matar, a caneta vem para imortalizar.

26.7.05

#25

"O cargo foi preenchido." Essas eram as palavras deles, não as minhas. De centenas, talvez milhares de pessoas, eu fui o escolhido. Com um breve olhar, eles acharam que eu era a pessoa certa para o cargo. Mas qual cargo?

Nem sabia ao certo se era um cargo mesmo. Na verdade só sabia que se pagava bem; pelo menos era o que prometia o anúncio. E eu precisando da grana do aluguel, essa informação era talvez a mais importante. Poderia dizer: "Precisa-se de colhedores de fezes de animais de grandes porte com predilência para feijão. Paga-se bem." Já me convenceria. Não que eu tenha medo do senhorio, ou de atrasar o aluguel. Mas sempre fui um cara certinho, daqueles que sempre está lá para todos. Recentemente, a maré de azar e a crise geral me transformou em um cara que não estava mais lá, um cara que falhava com os compromissos e não pagava dívidas. Não queria ser esse cara; gostava de ser o banana de antes. Por que na verdade, eu ainda era um banana, mas um banana sem grana e sem motivação. Achei que então essa seria a virada, e tudo ia muito bem. Afinal, eu preenchi o cargo.

A sala estava escura e mãos aleatórias vinham de encontro com a minha me cumprimentar, me dar os parabéns. "Perfeito, você é o perfil que precisávamos," diziam, enquanto chacoalavam meu braço. Eu não via ninguém direito, apenas silhuetas. Algumas magras, outras gordas, outras carecas e umas poucas mais cabeludas aparentando jovialidade. Os apertos de mão eram firmes e fortes, e as congratulações eram cheias de sorriso. Com tanto vigor ao meu redor, nem me preocupei muito. Apenas estava feliz em saber que ainda servia para alguma coisa.

Daquela sala escura me levaram para o começo de um longo corredor. Me falaram para seguir em frente, e para entrar na porta ao final aonde eu receberia meu treinamento. Pensei em perguntar sobre um adiantamento, mas achei que seria melhor esperar e perguntar durante o treinamento. Segui o corredor, e aos poucos foram aparecendo luzes que iluminavam o caminho. Haviam portas de vidro ao longo do corredor, e atrás delas eu via escritórios modernos com pessoas trabalhando, discutindo, se reunindo... Parecia alguma grande corporação. As vezes essas grandes empresas tomam cuidado na divulgação de novas vagas, sabendo que a mera menção do nome delas pode trazer não só uma enxurrada de gente não-capacitada, mas também protestantes anti-capitalistas afim de transformar qualquer evento em campo de guerra. Comecei a achar a coisa toda mais normal, vendo aquele pessoal todo trabalhando. Finalmente, então, cheguei na última porta. Esta não era de vidro. Era uma porta maciça, de algum metal; pintada de marrom para parecer madeira. Nela, estava uma plaquinha azul fina, com a incrição "sala de treinamento" talhada em branco. Bati na porta, e não obtive resposta. Hesitei por um momento, olhando em volta para ver se havia alguém vindo. Ninguém. Resolvi tentar a maçaneta e abrir a porta. Não estava trancada, então entrei.

#24

(nova republicação de um poema antigo...)

Almas dilaceradas,
Pessoas incompletas,
A vida continua
E é tudo a mesma merda.

Arranque de meu peito
Este oco coração.
Dele não mais preciso --
Me faz amar em vão.

Sorrisos me esvaem
E dores me completam.
Pra que mostrar meus dentes
E esconder as cáries?

Se podres são os homens,
sou podre ao quadrado.
Sou homem, sou demônio,
Sou anjo desalmado.

Esqueçam as desculpas,
as lágrimas são secas,
o gosto é amargo,
a vida é inútil.

(originalmente cyber-publicado em 22 de agosto de 2004)

25.7.05

#23

O imperador usava roupas negras. O corvo que o acompanhava havia morrido misteriosamente durante a noite. De luto, ele saiu na sacada de onde fazia os esperados anúncios imperiais, e decretou aquele o dia do corvo. Seria um feriado nobre, marcado por uma festa em que as pessoas se vestem de negro, de preferência com plumas, e assustam os maus presságios para longe. Logo no primeiro ano, parece ter surtido efeito -- a colheita aquele outono foi recorde, e nunca um inverno teve tanta bonança. Até as cigarras puderam comer bem, ao lado das formigas. Acreditou-se, então, que aquele corvo trazia todo este bem para o império, e criou-se a lenda do deus corvo, que colocava não só o pão na mesa, mas também os queijos e as fatias de carne para recheá-lo. O imperador ficou feliz com isso.

Nos primeiros cinco anos, o dia do corvo cresceu cada vez mais, ganhando a participação até dos reinados mais distantes. E a abundância permaneceu, proliferou, e o deus-corvo ganhou fiéis que nunca perderia. O imperador, agora chamado de imperador-corvo, desfrutou desta abundância, banhando as colunas do palácio em ouro, e acrescentando uma gigantesca estátua de um corvo, feita em platina maciça, na praça central da cidade. Praça que era também o ponto de feira na época de colheitas. Deu certo, e por mais cinco anos as plantações foram mais produtivas ainda. Começaram a armazenar o excesso de comida em grandes silos -- as pessoas gargalhavam nas ruas diante de tamanha felicidade e fartura. Os cidadãos aclamavam o deus-corvo como o benfeitor de todos, e ergueram templos em sua homenagem. Não faltavam devotos; e os devotos aumentavam em quantidade e em tamanho -- o povo foi engordando, com tanta comida pela frente. Os próximos três anos foram os mais produtivos de todos, e a engorda foi tanta que os devotos ampliaram os templos e as entradas dos templos para acomodar a todos. A estabilidade e felicidade geral era notada por um aumento espantoso na taxa de natalidade do império inteiro. O império não só engordou, como se fortaleceu, e triplicou de tamanho nestes três anos. Cada região tomada pelo império passava a desfrutar também da boa fortuna do deus-corvo, e os silos do planeta inteiro foram se enchendo.

No décimo-terceiro ano, uma nuvem negra cobriu a cidade central do império. Não era chuva, mas corvos. Eles pairavam sobre a cidade, se concentrando particularmente em volta do palácio e da praça central. Ao saber da notícia, o povo do império sentiu que era mais uma grande dádiva a caminho. Aos poucos a população dos reinos vizinhos vinham de viagem para poder prestar homenagem ao deus-corvo. Em poucas semanas, já apareciam cidadãos dos mais distantes povoados, procurando a dádiva do corvo. A nuvem de corvos, assim como a multidão, se ampliava, e agora os corvos cobriam não só a cidade inteira, mas os subúrbios, e corvos já apareciam também em grandes concentrações nos reinados imediatamente adjacentes. Não havia mais dia sobre o palácio do imperador -- mas sim uma noite sem estrelas, repleta das plumas escuras dos corvos bloqueando a luz do sol.

Um dia, no dia do corvo para ser mais preciso, o imperador saiu na sacada como de costume. Estava usando roupas pretas, e o adorno em forma de cabeça de corvo sobre a cabeça. As belas e longas mangas de sua manta formavam como uma asa. Neste dia ele não fez nenhum anúncio. Subiu no muro da sacada, e pulou. O povo se espantou, mas em êxtase viu o imperador planar e então voar, batendo asas. As mangas do manto não pareciam mais ser mangas, mas eram asas de verdade. A cauda do manto já não mais flutuava, mas sim ficava enrijecida, como penas do rabo de um pássaro. O fino nariz do imperador se alongou e logo se transformou em bico. A população imperial gritou em festa, vendo que o líder deles havia se tornado a personificação do deus-corvo na terra.

E então todos os corvos pararam de voar em rodeios, e em conjunto desceram em rasante. Começaram atacando os olhos dos devotos, bicando, retirando os globos oculares do lugar, jogando-os no chão. O pânico começou, e todos começaram a fugir. Alguns poucos sentiram que essa era a entrega máxima ao deus-corvo e abriram o braço para acatar as bicadas negras. Não ficaram decepcionados. Outros tentaram lutar, mas logo eram derrotados, não somente pelos corvos, mas pela multidão fugindo, ou pelos devotos mais fanáticos protegendo o deus-corvo. Após arrancarem os olhos, os corvos começavam a comer da carne ainda viva de cada um, pelos buracos deixados. As pessoas tentavam rolar e escapar ainda cegas, mas não conseguiam -- eram muitos corvos. A nuvem negra que atacava se espalhou por todo o império, deixando somente carcaças de pessoas e de silos, comendo toda e comida e toda a população de todo o império. a população gorda foi substituída por um domínio de enormes e obesos corvos, que passaram a andar na terra de tão pesados que estavam e não conseguiam mais voar. Os corvos gordos, felizes, sorriam andando livremente pelas terras dantes dominadas pelos homens. Da sacada do palácio, o imperador-corvo, polindo o bico negro com as brilhantes plumas das asas, permanecia sorrindo.

No fatídico dia de luto treze anos antes, não teria sido o corvo que havia morrido misteriosamente, mas sim o imperador.

#22

(Havia um texto aqui, que será reescrito. Infelizmente, ele foi perdido devido à minha falta de cuidado. Agora, neste momento de frustração, a raiva prevalece e ele permanecerá perdido. Mas em breve, estará aqui. Aguarde!)

(O texto original, que tinha muito mais intensidade e insight, infelizmente foi apagado por um erro de atenção meu. Ninguém chegou a lê-lo, nem mesmo eu o reli. Tentei aqui recria-lo, mas alerto que não tem a mesma emoção, o mesmo sentimento de antes.)

Nicole Mead. On moving day my junior year of college I was a volunteer to help the freshmen move in. One of the first vans to pull up to the parking lot contained a long-legged blonde with a radiant smile. That wasn't Nicole. Her name was Katie, and I promptly volunteered to carry the mini-fridge up to her room. The elevator on that dorm building was broken (as usual, on moving day), so I carried the not-so-light fridge up three flights of stairs while Katie opened doors for me. You see, in a dorm building there are many locked security doors for... Well, security reasons, so moving in required some planning to quickly get those doors open or risk dropping a big screen television set down the stairs. In this case, it was a fridge, but it was equally risky to carry it, as I tried to smile and not break a sweat. Katie opened all the doors along the way except for the last one. That would be her room door, because her roommate had already arrived and was in there, a non blonde without long legs or a smile. Just a regular girl. That was Nicole.

On the first day of classes, I went up to their room to see if they wanted to check out the poster sale in the quad. Katie couldn't, because of class or some equally unconvincing excuse. But Nicole promptly offered to come along, and so she did. On the way, I noticed how nice it was to have this girl's undivided attention. It was something incredibly powerful to feel like you were at the center of everything, and nothing I'd ever felt before. At the poster sale we talked more about ourselves, and about music, movies (easy subjects to talk about when there are posters involved), and she made me smile and I made her laugh. A few hours later, it felt like we had instantly become great friends. Yes, friends, because... Well, I forgot ot mention she had a boyfriend back home, about an hour away from college, and I had a girlfriend much farther away -- she was studying abroad doing a bus tour in Europe. I guess because of that, it was rather easy for us to open up to each to each other and enjoy the closeness of our sudden friendship.

Along with the friendship came the usual clichés -- her boyfriend started getting jealous of me, rumours around campus said that we were together, and since it was known we both had significant others that reflected poorly on our image. Neither of us cared. Our closer friends knew we were just friends, and we enjoyed hanging out with each other too much. So much that almost every day of the week she'd hang out in my room until 4 a.m., when the R.A. would come and tell her it was past visiting hours and she had to go to her own room. We simply laughed at the whole thing, and meanwhile we'd spent hours and hours just watching TV, listening to music and talking about nothing and everything at the same time. We stuck together because we could, and we felt good and guilt-free about it. She'd help with my photography assignment and I'd help her with her presentation for Dialogues class. She'd proof-read my poems and I would test her with her flash cards for the anatomy mid-term. And nothing ever felt wrong about it.

And then it was time for THE dance. Well, maybe not THE dance, because it wasn't a big deal at my school, but the homecoming dance. I didn't worry about it because my girlfriend wasn't there, and I imagined Nicole would go with her boyfriend, but it turned out the guy had a dance to attend in his school on the same exact date, and they decided they'd each attend their own dance. So I told her we should go as friends, along with a group of course, and so we went. I did my best not to give her all my attention during the dance and let her have her own time there, after all it was a group thing.

When we got back from the dance though, we were talking in my room and she said she felt I should've given her more attention, since I was her date and all. I smoothly made up for it by inviting her to one more slow dance, right there. So we danced to the slow dance and avoided looking at each other, just listening to the music quietly. But then one of us went to say something, we looked in each other's eyes, and I knew it. I could feel it in her eyes, in her lips, in the way her arms were around my neck. I knew I could kiss her at that moment, I knew that I wanted it and she wanted it too. But then I thought about my girlfriend, about her boyfriend, and about everything else that was there. I chickened out. I didn't do it, I didn't follow the moment.

Of all the things that happened in my life, I feel that this one is perhaps the most defining moment. Not sailing around the world. Not deciding to spend 6 years studying abroad. Not deciding to come back after those 6 years. This one moment, this one kiss I didn't take, is the fork on the road for me. I often look back at that day with mixed feelings, wanting to know what would've happened if I had done things differently. Nicole and I remained friends after that day, and we even shared a similar moment or two after this, but nothing with such intensity. A few months later her boyfriend broke up with her and she seeked solace in the shoulders of her female friends, and not mine. Shortly thereafter I went to study abroad for a semester, and when I came back I just wasn't her friend anymore. If we exchanged 5 sentences after my return, it was too much. That closeness, that magic between us, it was all gone. I was no longer the center of her world. Looking at all the "what-ifs" in my life, this is the one I wish I could go back to and try the other path. I know in my mind that I did the right thing then, but the aftermath felt so wrong... I wonder if doing the wrong thing would've made things feel right. At the very least, it would've felt good knowing that I kissed her.

22.7.05

#21

(um momento "querido diário". contemplação. prometi evitar, mas não prometi não fazê-lo)
O que teriam em comum o Japão e a Espanha? Bem, primeiramente os dois países parecem ter uma forte ligação com o sol. O Japão, sendo a terra do sol nascente, e a Espanha, que já teve como slogan turístico "Todo bajo el sol" -- tudo em baixo do sol. Outra coisa que os dois tem em comum sou eu. E meus irmãos. Somos de uma rara (talvez nem tão rara assim, mas no momento não me lembro de ninguém mais proveniente desta combinação) mistura nipo-hispânica, provocada pelo encontro universitário de meu pai e minha mãe. Além de ser minha origem, há ainda outra ligação -- os dois podem estar em meu futuro. Como assim?
Não é de hoje que tenho duas idéias que martelam fortemente meu casco cerebral -- ir para a Espanha e morar alguns meses na Andaluzia, terra aonde meu avô nasceu; e passar alguns meses trabalhando no Japão, aquelas ilhas de onde vieram todo o meu sangue materno. A primeira idéia seria mais por diversão, sendo que para tanto teria que arrumar trabalho e me virar por lá... Já a segunda seria mais por trabalho, mas óbvio que estando por lá aproveito e me divirto também... Afinal de contas, um homem não podem viver apenas de colecionar iens. O bônus seria, além da viagem a aventura em si, o aprendizado de uma nova língua, a convivência com uma nova cultura... Enfim, temos muitos prós, obviamente. Os contras? Basicamente ter que por aquela vírgula na minha vida, aquele intervalo entre tudo o que está acontecendo agora e tudo que acontecerá depois. Isso inclue família, namorada, trabalho, faculdade, amigos... Já fiz essa vírgula antes, que aliás foi bem longa, e mais pareceu um ponto final em certos momentos. Não sei se devo fazer de novo.
Estou então naquele momento de decisão. Aquela bifurcação que todos encontram na vida. Robert Frost, em um famoso verso diz que devemos tomar a estrada menos percorrida, algo que virou clichê hoje em dia. Aqui, isso não serve -- as duas estradas me parecem igualmente percorridas, e a única questão é qual me encanta mais? Isso ainda está para ser visto... Mas acho que poucos meses me daram essa resposta. A proverbial "janela de oportunidade", como define o termo em inglês, está se fechando, e logo minha vida tomará a decisão por mim. Espero, ansiosamente, pelo desfecho. Quem sabe isso não rende outro blog?

21.7.05

#20

O gato branco e o homem-barata unem forças para me enfrentar. Atacam juntos, garras afiadas e perninhas marrons, sempre procurando me derrubar. Já apanhei de cada um deles só, o que dirá dos dois em conjunto. Encontro forças apenas em minhas pernas; forças para correr, ganhar distância. Mas o gato branco é ágil, é rápido, é fatal. Rebola antes de correr, e logo me alcança, me derruba. Recebo outro jato de asas e antenas em meu rosto. Não há poesia nenhuma nisso -- apenas humilhação e dor, e o nojo de sentir insetos vis caminhando o mesmo caminha que meu sangue percorre. O que fazer quando se é derrotado? Levanto-me, imundo, ensangüentado, e espero não ter que encontrar nem o gato branco nem o homem-barata pela frente no caminho de volta pra casa. Imagino que os dois devam estar em algum canto, bebericando pinga com mel e festejando a vitória, o massacre. Penso que hei de me vingar, mas não sei como. Contra estes vilões, nem a literatura me salva.

#19

Eu encaro a fera. Ela me encara de volta. Aquela carinha sonsa, de quem não tem compromisso com a vida. Aqueles olhos... Shakespeare definiu uma vez que o ciúmes é uma besta de olhos verdes. Bem, esta tem olhos azuis. Ele faz o primeiro ataque -- se esfrega em minhas pernas e clama por minha atenção. Dou-lhe minha atenção já no pescoço. Pego-o de jeito, os pelos dele roçando em meu braço, macios como o carinho de mãe... Só que surgem unhas. Grandes unhas. Ele abraça meu antebraço com as garras, e finca-as fortemente. Solto o pescoço, mas logo os dentes dele se fincam em minha mão. O agarrado passa a me agarrar. E zomba de mim, como se tudo fosse uma brincadeira. Morde o meu dedo e chacoalha a cabeça. E ronrona. Como pode ronronar? Que bicho maldito. Rouba minha namorada, rouba meu ataque, rouba meu braço, e ronrona. Mas isso não vai ficar assim. Ataco a barriga dele com minha outra mão... Mas como é macio esse pelo. E ronrona mais alto. Já largou do meu braço, vira a barriga pra cima, e volta a se esfregar em mim. O vermelho do sangue toma conta do meu braço. Mostro para ela as marcas da batalha, e ela retruca mostrando as cicatrizes no próprio braço. Com orgulho, como se aquilo fosse um autógrafo do Ringo em plena Beatlemania. É, acho que essa luta eu perdi. Não há como lutar contra o monstro de olhos azuis. Ele é fofo demais para ser derrotado.

(originalmente cyber-publicado em 10 de maio de 2005)

20.7.05

#18

"We are the music makers.
We are the dreamers of dreams."
-- Willy Wonka

The human imagination is perhaps its greatest tool. As humans, we are able to conceive of things that cannot ever be accomplished by us, but that we feel someone else, at another time or another place, can probably do it. Also we can envision creatures that may inhabit this very world, or perhaps another, but that don't actually exist. The human imagination is limitless. From it, we get buildings, bridges, museums, paintings, poems, romances, fantasies, science... If I were to list it all, I'd spend the rest of my life writing words here, and I still wouldn't scratch the surface of what we humans can create with our brains. On a previous post I discussed the human imagination dealing with life outside of Earth, but it's also surreal to look at the things we have created for our own world.

Look at the fantasies we have surrounding it -- we dream of dragons, vampires, werewolves, elves, hobbits... We dream of magic, and we dream of science. One writer who often explores our current limits and lets his imagination fly around it is Michael Crichton, and he often hits some very good themes such as the idea of man creating Dinosaurs or of man finding a way to travel through time. Of course, his adventurous and best-selling heart turns all these ideas into long romance novels, which despite the great premises don't always become great books.

At any rate, we humans like to add the absurd to our reality. Movies, paintings, poems, stories, science, religion and fiction are only the tip of the iceberg of our imagination. (A little disclaimer here -- I'm not saying that science or religion are mere imaginations, but I'm saying that even what can be evidenced of these things came from an idea someone had about something, therefore being started by someone's imagination.)

One of the times where every human being delves as deep as they can into the world of their imagination is when they dream. Dreams deal with elements of reality, but they add to it elements of the dreamer, creating mind-bending combinations of people and places, of settings, names, shapeless forms and anything else you can or cannot think of. Despite all of its possibilities, dreams are personal. I'm not sure I'd be too interested in other people's dreams, and that's why I don't usually comment on my dreams to other people unless they participate in it. However, being personal doesn't mean dreams aren't marketable -- in fact the market for dreams is increasing. There are a number of books out there trying to tell people ways in which they can be more aware of their dreams, and perhaps even ways to control your dreams and what you do in them. The power of dreams make people want to have power over them. Like in that movie "Total Recall", where the character buys a "vacation " dream (and even in this it's not someone else's dream -- it's his own dream, with some elements inserted into it). But dreams can change people's lives. People fall in love through dreams, they talk to the dead, they make up with people who are no longer around them... It's no wonder people would want to control it -- such control would be almost like achieving omnipotence. But personally, I like my dreams the way they are -- out of control. What I love the most about dreams is that I don't know what's happening there, and that I don't know what's coming next. It can be disturbing at times, but if I was to control dreams to always be something nice and pleasant, then it wouldn't be the same. And even if I was to add some chaos to it, it'd be controlled chaos. Maybe if I take the unpredictability out of dreams, the next step will be to remove it from life as well. So I'll just let my dreams be, and I'll let me be my dreams... I wouldn't want it any other way.

(originalmente cyber-publicado em 18 de setembro de 2003)

19.7.05

#17

Me pergunte em algum dia brilhante,
com o sol aquecendo meus poros e uma leve brisa refrescando meu sangue;
se acredito que tudo isso vale a pena.
A resposta, clichê em hollywood, é feliz como final de filme.

Me pergunte em algum dia nublado,
daqueles que nuvens cinzas se transformam em humor;
a mesma pergunta, da mesma forma.
A resposta, ao ver quem pergunta, será a mesma.

#16

A placa em um poste aleatório dizia "Procura-se seres humanos, com ou sem experiência de vida. Paga-se bem." Precisava de alguma grana e preenchia todos os pre-requisitos, então liguei pro número na placa. Uma gravação monótona dizia para me apresentar pessoalmente dia tal, local tal, horário tal, vestindo tal. Mais nenhuma informação. Era muito curioso, tudo isso. Obviamente não havia nenhum processo de pré-seleção -- qualquer coisa que pudesse ler a placa e ouvir a gravação poderia comparecer. Tá certo que dificilmente uma criatura que pudesse fazer essas duas coisas não seria humano. Mas ainda assim, era curioso. Liguei de novo, procurando mais informações na gravação, vendo se tinha algum detalhe que eu havia perdido. Nada. Estava preocupado; eu precisava do dinheiro, mas no jornal tem cada história esquisita... Não dava pra ir sem ter idéia do que era. Resolvi dar uma olhada no endereço um dia antes do combinado, esperando que talvez uma outra leva de "candidatos" estivesse por lá e eu pudesse aprender algo. Nada. Apenas um enorme muro branco, e um igualmente gigante portão preto, com o número do endereço pintado em letras minúsculas ao lado do portão. Não havia campainha. Bati na porta com força, mas ninguém atendeu. Pensei em perguntar para algum vizinho, mas decidi regular minha paranóia. Se o negócio era tão esquisito assim, talvez fosse melhor nem aparecer. Talvez eu conseguiria algum outro bico para arrumar a grana e pagar o aluguel. Na manhã do dia tal, enquanto contava meus trocados para pagar a média que tomava no boteco em frente à meu prédio, o zelador veio falar comigo. O senhorio estava puto, queria os meses de aluguel atrasados, e mais um adiantamento do próximo. Foda. Não era muita grana, mas claro que eu não tinha. E não tinha outra opção também. Quando deu horário tal, lá estava eu, em frente ao portão preto, vestindo tal. Havia uma fila enorme na frente -- imaginei quantos aluguéis atrasados estavam esperando na minha frente. Mas a fila andava rápido, e logo vi o porque... As pessoas, logo na porta, recebiam a explicação de que não se adequavam ao perfil, e eram mandadas embora sem explicação. Esperava o mesmo destino, claro, mas na minha vez recebi outro tratamento. Me puxaram para dentro do portão preto e fecharam tudo atrás de mim, mandando o resto da fila embora com gritos de "o cargo foi preenchido". Fiquei orgulhoso por um momento. Mas que sorte! Ou será que não?

18.7.05

#15

Estávamos bebendo quando olhei nos olhos dele e disse: "Você parece Bukowski. Não em estilo, mas em aparência". Logo ele, que na verdade nem bebendo estava. Indignado, ele se levantou e apontou o braço para mim; das mangas surgiram baratas. Mais e mais baratas. Elas voavam direto do punho dele para cima de mim; entravam em minha gola, percorriam meu pescoço, estalavam em meus ouvidos, pisavam em minha boca. Ele ria -- braço estendido, baratas voando; a cerveja derramada, se misturando com meu temor. E eu, embaratado, encervejado, amedrontado, caído no chão; eu não pude deixar de pensar que nunca considerei ofensiva uma comparação com Bukowski. Não até ver as baratas.

#14

Lá fora, na rua, encontrei um garoto manco.
Mancou ate mim, me olhou nos olhos e estendeu a mão.
Não para me cumprimentar, mas para pedir ajuda.
Ignorei o menino manco, e ele prontamente me xingou.
E senti o peso de todos os mancos de todo o mundo me xingando.
Como se turcos mancos me insultassem naquela língua.
Ou mancos quenianos amaldiçoassem minha família.
Andei com a postura reta, sentindo também o peso das moedas em meu bolso.
Nunca me senti tão bem em toda minha vida.

14.7.05

#13

(13 é um número muito associado à idéia de sorte e azar. Considerando isso, e a situação política atual, retomei um texto meu antigo...)
Uma frase que ouvi muitas vezes em aulas de filosofia (e também algumas vezes em aulas de literatura) é a velha escrita de Aristóteles, dizendo que "O homem é um animal político". Na época em que o discípulo de Platão anotou esta máxima, ele estava fazendo um elogio ao Homem. As pólis, que resultaram no que hoje chamamos de cidades (ou quando exageramos chamamos de metrópolis), eram consideradas uma das maiores conquistas da humanidade -- eram provas de que os homens eram capazes de juntos criar uma sociedade de co-existência, em que todos se ajudam e mutualmente se beneficiam, pensando sempre no bem-estar da própria pólis (e consequentemente da sociedade), e na excelência da raça humana. Então, quando Aristóteles se referia ao homem como um "animal político", ele fazia uma homenagem à capacidade do homem de se aperfeiçoar e buscar o bem comum.
Pois é, alguns poucos milênios mais tarde e conseguimos jogar este ideal pela latrina. Hoje em dia a palavra "política" é quase um palavrão. Tem gente que nas ruas substitui o velho "filho de uma puta" por "filho de um político". O bem comum se tornou menos importante que o bem próprio. A co-existência passou a ser um incômodo, e não uma vantagem. Sim, por que quando reclamamos do trânsito, do barulho, do inferno da vida urbana, reclamamos da co-existência. As pessoas buscam saídas desta vida, saídas externas (viagens) ou internas (também viajando, mas com outros "veículos"). E cada vez mais os homens tentam ignorar a presença um dos outros (salvo pela presença daqueles que podem nos beneficiar pessoalmente), e com isso ignorar também o conceito de sociedade.
Se a mesma frase "o homem é um animal político" fosse proferida hoje, também seria verdade. Mas buscaria o significante mais negro do conceito de política... Aquele que diz que todo político é corrupto, que todos na política são ladrões... O homem comum, não tão distante do político, também é, em termos gerais, corrupto, bandido, mesquinho, individualista... Pelo menos na versão do próprio homem, de um modo geral. As pessoas pararam de acreditar no bem da humanidade e passaram a acreditar no potencial destrutivo dela.
É claro que generalizo. Ainda existem milhares (talvez até milhões!) de pessoas que representam o animal político de Aristóteles, aquele que todos deveríamos procurar ser. Mas me parece que o número de animais políticos modernos é crescente, e é assustadoramente predominante.
Talvez isso tudo seja apenas uma impressão minha -- o resultado de um negativismo individual que possuo e que vê esta sombra na nossa atual sociedade. Espero mesmo que seja. E espero também que mesmo que eu esteja certo hoje, estarei errado em alguns anos. Talvez o animal político seja cíclico, e com mais um par de milênios o homem voltará a ser aquela criatura semi-perfeita que Aristóteles um dia viu.
(originalmente cyber-publicado em dezembro de 2002).

#12

(poemetos de inspiração romântica, de alguns meses atrás... )

Naqueles leves pêlos
que surgem na sua nuca;
Foi lá que eu me perdi.

Me perdi naqueles pêlos,
banhei-me em seu suor,
brinquei em seus cabelos,
adormeci em seus poros.

Acordei com seus beijos,
e naqueles leves pêlos
que surgem na sua nuca;
lá eu te encontrei.

----------------------

A saudade é uma coisa estranha...
Não chega assim, aos pouquinhos,
e nem aparece do nada, de repente;
mas surge toda vez
que estou longe de você.

13.7.05

#11

"I wouldn't want a heart that's been dented by you."
-- The Thrills

Desligou o telefone chorando. Não era a primeira vez, mas talvez fosse a última. Ao menos a última que desligaria por esse mesmo motivo. Brigas e brigas depois, não entende como continua dando importância à aquela pessoa que já não quer mais saber dele. Mas acabou de desligar e queria ligar de novo. Não tinha pensado em um argumento novo, nem ao menos tinha esquecido de dizer algo -- queria apenas repetir o que já havia dito para ver se dessa vez o argumento passava. Tanto tempo juntos...

Lágrimas são comuns em relacionamentos. Sabia disso. A freqüência delas as vezes pode indicar como andam as coisas, e se fosse esse o termômetro estava tudo muito mal. Ela queria seguir em frente, mudar de vida; dizia que não agüentava mais as diferenças entre os dois, que não eram compatíveis. Mas ele só pensava em como sorriam livremente alguns meses antes. Como qualquer contato entre os dois era do tipo que libertava as almas e deixava os corpos livres para se amarem. Pensava em como ela era diferente. Ela mudou, é verdade. Mas nada conseguia racionalizar tudo acima do que era evidente -- ele sentia a falta da presença física dela, dos abraços, dos beijos, do sexo. Não era possível separar essas coisas dela mesma, seja ela a antiga namorada dedicada ou a briguenta que agora aparecia e que não queria nem falar ao telefone. Era mais trabalhoso, mas as vezes ainda conseguia aquele abraço, aquele beijo... E achou que era uma fase. Repetia para si mesmo, para ela, para todos que conhecia... É uma fase e precisamos passar por isso. Ela não aceitou o argumento. Não vamos passar dessa fase. Game over.

E o que resta então? Além das lágrimas deve haver algo mais digerível. Mas isso está tudo tão distante... Quer ligar para ela de novo, não pode. Precisa de algum consolo. Algum abraço. Se não o dela, o de alguém, para ao menos sentir que pode separar isso dela. Mas não pode. Beijou outras, e não adiantou. Continuou querendo os beijos dela. Dormiu com outra e não adiantou. Queria mesmo o sexo com ela. Era amor, tinha certeza disso. Se fosse só físico seria só transar com outra e esquecer dela. Talvez estivesse enganado, mas como pode tanta certeza vir de um engano? As vezes nos enganamos...

Continuou despejando lágrimas, continuou querendo ligar. Ligar pra que? Para brigar com ela? Para saber que ela não está nem aí? Se ela se importasse ela teria ligado. Toca o telefone, corre para atender; dever ser ela. Não, não estou interessado em uma segunda linha telefônica. Uma só já dá agonia o suficiente. Não é preciso de duas vias para ela não me ligar.

Um dia, ela ligou. Conversaram pouco, não descobriram muito um sobre a vida do outro. Mas quando desligou não voltou a chorar. Progresso. Mais a noite, vendo um filme qualquer na tevê, sentiu as lágrimas forçando passagem. De volta à estaca zero. Não há remédio para isso, somente o tempo. Muitas vezes nem isso, apenas se acostuma com a tristeza e vira pano de fundo. Acontece com todo mundo, não seria e nem foi diferente com ele. Final feliz? Procure uma novela. Aqui, sofremos e procuramos sofrimento. E a felicidade continua sendo elusiva. Elusiva, mas não impossível. As vezes sorria, e sorria de verdade, sorrisos sinceros, que não tinham nada a ver com ela. E o futuro? Traria mais sorrisos, e também mais lágrimas. Mas ao menos não seriam mais por ela. Não no futuro. Essas de agora, essas são por ela.

12.7.05

#10

outro antigo...


Duality as a friend.

look up to the heavens, child,
and you might see your own image.
look down through the cracks in the pavement.
are those your freckles you see reflected in the devil's eye?

saintly sinners,
demons with feathered wings,
for how long will you lie to yourself
and deny to the world about who you are?

cry not for the harm you have caused,
because deep down you've enjoyed it.
smile not about the hearts you've broken,
because i know you'd like to mend them.

how ambiguous can you be my friend,
when you sit there telling me lies,
only to comfort me about the horrid truth
that only someone as good as you would think to hide?

(escrito em julho de 2002)

11.7.05

#9

"Um só coração," disse Deus.
"Somente um para cada uma de minhas criações."
O todo-poderoso, onisciente que é, nem pensou nos milhares que se quebram todos os dias.
Ato falho?
Devemos nós ter mais cuidado com ele.
Mais cautela.
Pode não ser frágil, mas quando se quebra, se esparrama feito batatinha em canção.
"Cuidado" disse Deus.
"Um só é muito. Imagine se eu desse dois."

#8

Um texto velho que se torna atual com o lançamento de certos filmes...
When dealing with its own insecurities, humanity often falls into existential questions, such as "why are we here?", "where are we going?" and "where did we come from?" One question common to those times of nonsensical pursuit of a never achieved knowledge is "are we alone?". That particular question can be used in a more intimate setting, as one begins to question his or her friendships; or it can be used in a much broader sense as one ponders if humanity is alone in the universe. However, when humans (as a race) begin to ponder about the existence of extra terrestrial life, they aren't satisfied thinking of simple single-celled life forms living on a distant planet -- They resort to fantasizing about superior races with higher intellect and a much improved sense of existing. But let's save humanity's inferiority complex for another post, and talk a bit more about this imaginary life form growing in the outer skirts of our Earth-centered universe.
I have seen many discussions before on the composition of these non-terrestrial life forms, arguing that perhaps other life forms wouldn't be carbon based like all the life in this planet, but they would be based on some other random element of our good old chemistry chart -- silicon seems to be a popular choice here, although I'm not all that sure why. This particular discussion is very interesting to me, because it leaves behind all the religious questioning about life outside our planet and begins to argue about the scientific details of it (yes, I realize science and religion aren't mutually exclusive, but when you begin to argue the atomic composition of an imaginary life form, you're pretty much putting the bible back in the drawer). Now, before we go deeper discussing the chemistry of our newly-found non-earthlings, let's go back to what do know about our own race.
We are, as far as I know, chemical creatures. All of your feelings, emotions and thoughts can be explained (sometimes rather vaguely) by chemical reactions going on inside our bodies. When someone feels sad, or happy, there's an specific part of that person producing whatever elements provoke sadness or happiness in our brains. Of course, I'm not so cold to say that we have any real control over such chemical events, but we're still affected by them and have to deal with their output of happiness, anger, or whatever.
But let me get to the point here... What if these alien life forms are exactly like ours, but lack the specific enzime that makes up an specific emotion? For example, what if they can't produce happiness? What happens if we encounter an entire planet of people incapable of being happy? And then they'll find us, and see us smiling, see us being happy, and they'll say "we want that". Maybe, because we will be so similar to each other, our particular governments will agree to remain peaceful, but in the background there will be a black market for happiness... Some aliens will start a little "happiness cartel" where they will attack earthlings at night and extract our happiness to sell it back in their planet for heaps of money, creating an inter-stellar market of pirates of happiness. Which would contradict our common saying of "money can't buy happiness". But this could work with any emotion -- when you think of it, we humans strive to find new emotions or intensify the ones we already have. Out of the regular narcotics out there, some make you speed up, some make you slow down, some make you happier for a while, some make you sadder, some make you angrier... But back on the aliens, if they start selling happiness as a drug, and it becomes an expensive item, then only the rich people of that planet will be happy... And that will bring about a whole new type of social inequality, one that we humans currently don't have in our planet... At least not in a large scale.
This could work vice-versa as well... Perhaps there is some emotion we humans are incapable of feeling, but those aliens will be filled to the brim with it... And if history has taught humanity anything is that humanity feels free to take away anything from any other creature, so of course we'll kill those darn aliens to get that new emotion and make it ours... And the consequences would be the same.
I guess my point is... There are so many dimensions to explore when we think of life outside our little blue planet, that although it is non-sensical to do so, it lends wings to what we want to find out there. Some people strive to find knowledge, and they imagine aliens with big bulging heads (no dirty stuff here) and huge brains storing gazillions of information still undiscovered by our scientists. Some people have inner prejudices built in them, so they imagine war-faring aliens ready to come and destroy us, so we must destroy them first. The aliens you imagine tells a lot about who you are, so I wonder about what kind of person I am, imagining aliens without happiness.
(texto originalmente cyber-publicado em 25 de janeiro de 2003)

#7

Acordou aquele dia com o calor do sol. Era raro isso -- nunca acordava com o sol da manhã. Sempre dormia até depois do meio-dia, às vezes até o horário de jantar. Mas naquele dia, sentiu o sol e acordou. Não lutou contra isso, se levantou e foi até a janela, sem saber ao certo que horas eram. Observou que as pessoas seguiam com o dia de sempre, andando atribuladas, entrando e saindo de carros, lojas, casa... Por um momento desejou ter uma vida normal.
Olhou para a cama, e lembrou que havia tido companhia aquela noite. Não estava mais lá. Devia ser alguém que agora estava lá fora, trabalhando, dirigindo, pensando aonde iria almoçar. Não lembrava o nome dele, nem ao menos se em algum momento o soube. Não se preocupou com isso; simplesmente acendeu um cigarro e seguiu olhando o cotidiano acontecer fora daquele lugar. Da janela do apartamento era possível o cruzamento ali perto, a descida da ladeira, o praça ao fundo. Ficava brincando de acertar por que caminho as pessoas seguiriam; se desciam pela ladeira a caminho do parque e do comércio local ou se continuariam em frente, para talvez pegar um ônibus ou o metrô na avenida mais para frente. Fez essa brincadeira por quase meia-hora, até decidir que realmente não sabia nada do destino dos outros. Foi então pegar uma cerveja na geladeira -- ainda sentia o alcool no sistema da noite anterior, e uma amiga havia lhe dito que uma cerveja pela manhã tira qualquer efeito de uma possível ressaca.
Tomou a cerveja lendo os quadrinhos do jornal. Se sentiu despreocupada -- para o mundo era como se ela não existisse nesse horário. Ninguém a incomodaria durante a manhã; ninguém pensaria que ela estaria acordada. Gostava dessa sensação de que a qualquer momento, em qualquer manhã poderia surpreender o mundo e aparecer para todos. Seria só vestir a calça jeans que estava pendurada na cadeira, colocar o casaco por cima do top branco, e sair. O porteiro seria o primeiro a se assustar, e depois a cidade inteira. Riu com a idéia. Mas resolveu deixar para depois. Escovou os dentes, fechou a cortina para bloquear o sol, e voltou a dormir. O dia, decidiu, não era o território dela. Se dava melhor com a noite, e era questão de tempo até a noite aparecer de novo. Cobriu as pernas com o fino lençol, abraçou o travesseiro, e dormiu. Sonhou com as formigas do mundo de fora, se imaginando cigarra. Dormiu profundamente.

8.7.05

#6

"You were right about the stars...
Each one is a setting sun"
-- Wilco


Conheço seu olhar
perverso, lânguido, felino;
do tipo que hipnotiza casualmente,
sem precisar de uma juba de cobras.

Penso em como foi a sedução
extrema, deliciosa, indolor;
você olhando para mim,
me tranformando em pedra.

Sonho com aquele futuro
súbito, real, inevitável;
eu escravizado de amor,
te fazendo margaritas.

7.7.05

#5

fragmento de um roteiro... sugestões de continuações?
(Aerial view of a church)
(cut to inside of a car. the car is parallel parked across the street from the church. two guys are in it, talking)

Greg (at the wheel) : I don't think i can do it. I am not ready.
Eric: Greg, this isn't really the moment to discuss it.
Greg: I'd rather do it now, than after I am married.
Eric: You're just freaking out. You'll feel fine after you do it.
Greg: No. No. I know freaking out, Eric. I've freaked out before. This is much worse.
Eric: Of course it's worse. It's a lifetime commitment. But if anyone is ready it's you.
Greg: I don't know about that. I don't feel ready.
Eric: Believe me, you are ready. I know you with girls, Greg. You aren't a nice guy. But with this one... It's different.
Greg: I think i am going to drive around a bit, think about this some more. (starts car)
Eric: (turning key back) You don't have time buddy. Your wedding is in 5 minutes. And I am not gonna let you fuck this one up.
Greg: Please just around the block once
Eric: (takes key away from starter) Just get out of the car (gets out of the car. camera moves back some, showing the full car and the church behind it. silence for a few seconds, Greg leans head on steering wheel). Greg? Get out. (Greg gets out, slams door. Eric closes car door) Come here.
Greg: (walking to Eric) I can't do it, man... I just can't do it.
Eric: You can do it man... You love her. I know that. You know that. She knows that. Everyone in that fucking church knows that. You want to marry her. I can feel it.
Greg: But...
Eric: What do you think? You can do better? You don't deserve her? Shut the fuck up man. She's great. You won't ever find a girl better for you. And she's there waiting for you, so she thinks you're worthy of her.
Greg: That's not...
Eric: Look, man... I don't even care. You're gonna get married. If you don't do it for you, do it for me. I don't even fucking have a girlfriend. I only get happiness vicariously through you. If you don't get married today and fuck this up you will be miserable, and then i won't even have that. I am miserable on my own, Greg, I don't need your vicarious misery.
Greg: ...
Eric: Look, all I'm saying is... There's a gorgeous, fantastic woman inside that church, ready to live her life with you. I've known you since forever, and you have never had a girlfriend fitting the "gorgeous fantastic" category. You have never been happier in your life, why screw this up?
Greg: You're right... She is gorgeous. She does make me happy. You're right. Don't mind me, I'm just...
Eric: .. freaking out. I told you.
Greg: Yeah. (pause) Thanks man. (they hug. In the background, you notice a woman in a wedding dress making her way out of a window. Greg is teary eyed and looking down and not noticing this) You are the best.
Eric: Greg
Greg: No man, I have to say this. There's no way I would have survived this relationship without you.
Eric: Greg
Greg: Lemme finish. I am sorry I didn't pick you to be the best man but...
Eric: Greg (turning him) Isn't that Heather? (by now, Heather is out the window and standing up, dusting herself while looking first at the window and then around)
Greg: My Heather? What is she doing?
Eric: (Heather starts to run away) Running it seems.
Greg: But we are getting married in a minute. Where is she going?
Eric: I think away from the wedding.
Greg: Why would she do that?
Eric: Maybe she doesn't want to get married?
Greg: How can she not want to get married? This is not the time to not want to get married.
Eric: A second ago, it was you ready to make that dash. Shouldn't we run after her?
Greg: Shit! (starts running, Eric goes after camera follows them, Heather is a good 100 yards ahead of them. They only run for a short time, because she gets in a car, and the car starts moving shortly afterwards) Let's get the car!
(they turn around and run to the car. both of them run to the passenger door and look at each other) What you doing?
Eric: It's your car
Greg: You have the fucking keys.
Eric: (pulls out keys) Oh yeah. Here.
Greg: You drive.
Eric: But it's your car
Greg: YOU FUCKING DRIVE, SHE'S GETTING AWAY. (takes key, starts unlocking passenger door, Eric runs around) Here (tosses keys back to Eric. Eric drops them)
Eric: Shit.
Greg: Fuck, get the damn keys, get in, let's go.
Eric: Sorry. (gets keys, unlocks car, both enter, Eric turns car on and starts adjusting the seat)
Greg: What you doing?
Eric: I am adjus...
Greg: (turning the car on) JUST FUCKING GO!
Eric: (forgetting about the seat and concentrating on drive.) Oh yeah. sorry. (they take off).

cut to opening title sequence

(A drive thru. A car is at the food window. Dustin, a boy in his early twenty's is driving it. He is wearing jeans, and a striped bowling shirt. He's getting a couple of bags of food from the window and putting them behind his seat. There's a Britney Spears song on the radio, he drives off listening to it and singing along. The camera now should be in front of his windshield as he sings along to the song. He stops the car at what appears to be a stop light, but keeps on singing excitedly. His singing is interrupted when Heather bursts into the car through the passenger door, and closes the door behind her, pulling her wedding dress in. He stares at her. She looks quickly out the passenger window, and then turns to him).

Heather: Please just go.
Dustin: Huh.
Heather: Drive you little man, drive!
Dustin: This isn't a cab.
Heather: I DON'T HAVE TIME TO GET A CAB. (she looks up at the stoplight) IT'S GREEN GO!. (Dustin hurriedly starts to drive away. The car is silent now except for the Britney Spears song playing on the radio. While he drives off, she looks out the window, and then back. She then looks at him and at the radio.) Do we have to listen to this? (he turns the radio off. The car is just silent for a second as she puts herself together) Where are we going?
Dustin: (hurt) You didn't have to yell.
Heather: (sighing) I'm sorry. I'm sorry. I just needed to get out of there. Thanks for getting me out. Where are we going?
Dustin: School.
Heather: It's Saturday. What are you going to school for?
Dustin: College dorms. I live there.
Heather: Oh.
Dustin: I can drop you off somewhere on the way, I guess.
Heather: No... No... I'll just call a cab from there or something.
Dustin: Is there anywhere you need to go?
Heather: ...
Dustin: Like a wedding or something?
Heather: (looks at herself) Oh. Yeah. This... Well, it's... A long story.
Dustin: Did you run...
Heather: So what school you go to?
Dustin: (looks at her for a second) Woodbury.
Heather: ...
(car is silent for a second)
Dustin: So what's your name?
Heather: What do you care?
Dustin: Sorry just trying to...
Heather: It's Heather. You must be (looking at his shirt)... Anton
Dustin: ... (looks at her, then looks down at his shirt) Oh. Yeah. Anton. That's me.
Heather: Listen... Just drop me off at your dorms and I'll call a cab and be out of your way.
Dustin: ... Do you have any money on you?
Heather: (looks at herself again). Shit. No. (props her head against the car window) Shit. (closes her eyes, takes a deep breath) Shit. (bangs her head a couple of times against the window, stops, and begins to cry.).

(cut to car with Eric and Greg inside. camera is positioned on the backseat, seeing where they're going and what they're saying).

Greg: I can't believe you stopped the car at a yellow light.
Eric: It was yellow
Greg: We were on a car chase!
Eric: I thought there was a cop behind me.
Greg: It was a cab!
Eric: But I thought it was a cop.
Greg: It was a car chase! You don't stop on yellow during a car chase.
Eric: Sorry, I thought...
Greg: Well, you don't think during a car chase either. You just fucking drive.
Eric: Sorry, i've never been on a car chase before.
Greg: Me neither, but you just KNOW these things.
Eric: Next time...
Greg: Next time, next time my ass! How often do you think girls run out of weddings?
Eric: I don't think we can find them anymore
Greg: Of course not! You fucking stopped at a yellow light! What's the matter with you?
Eric: We can look for the car. What was it? A blue...
Greg: Fuck if I know. It was blue. We'd be following it if you hadn't fucking stopped.
Eric: I said i'm sorry.
Greg: yeah yeah. Just drive, maybe we'll find them.
Eric: Shouldn't we head back? Maybe she's back.
Greg: And what if she's not?
Eric: Well, ONE of you should show up for the wedding. I've never heard of a wedding where both the groom and the bride ran away.
Greg: I sure as hell ain't going back. I couldn't face all those people. What am I going to tell them?
Eric: I don't know. But maybe she's back.
Greg: How could she do that? Run out on me after all that you said?
Eric: She wasn't there listening to me.
Greg: WHO THE FUCK CARES!
Eric: I am just saying, I talked to you, not her.
Greg: Just shut the fuck up.
Eric: ...
Greg: I wouldn't even be in this trouble if you had just shut up in the first place. I'd be far from here and not worried about the fact she ran out of my wedding.
Eric: No?
Greg: No, i'd be worried about the fact I ran out of my wedding.
Eric: We can tell people you ran first.
Greg: Not if we go back.
Eric: Then let's not go back.
Greg: That's what I've been... WATCH OUT! (they both sort of duck, screen fades black, we hear screeching tires and a loud crash. pause. screen still black.) You okay?
Eric: (sounding hurt) yeah. you?
Greg: I'm all right.
Eric: Let's get out. (screen shows aerial view of the car crash. Greg and Eric come out of the car, their front all smashed in, a car with the side all smashed a few feet ahead of their car. during the conversation, the camera cuts to closer to the car).
Greg: What the fuck happened?
Eric: I think I ran a yellow light.
Greg: Shit. We weren't chasing anymore.
Eric: Or maybe it was red. I don't know.
Greg: Like it matters. Look at it (looking at car). I am so fucked. (looks at eric) Shit. You're bleeding. (Eric feels his forehead, and it's bleeding. Greg pulls a hankerchief from his tux pocket and puts it on Eric's forehead). Sit down, I'll check the other car. (Greg walks to the other car, the passenger side, looks in, then moves to the other side) Are you okay there? (the camera follows him, we see inside the other car is a woman in her 20s. She is crying).(Aerial view of a church)
(cut to inside of a car. the car is parallel parked across the street from the church. two guys are in it, talking)

Greg (at the wheel) : I don't think i can do it. I am not ready.
Eric: Greg, this isn't really the moment to discuss it.
Greg: I'd rather do it now, than after I am married.
Eric: You're just freaking out. You'll feel fine after you do it.
Greg: No. No. I know freaking out, Eric. I've freaked out before. This is much worse.
Eric: Of course it's worse. It's a lifetime commitment. But if anyone is ready it's you.
Greg: I don't know about that. I don't feel ready.
Eric: Believe me, you are ready. I know you with girls, Greg. You aren't a nice guy. But with this one... It's different.
Greg: I think i am going to drive around a bit, think about this some more. (starts car)
Eric: (turning key back) You don't have time buddy. Your wedding is in 5 minutes. And I am not gonna let you fuck this one up.
Greg: Please just around the block once
Eric: (takes key away from starter) Just get out of the car (gets out of the car. camera moves back some, showing the full car and the church behind it. silence for a few seconds, Greg leans head on steering wheel). Greg? Get out. (Greg gets out, slams door. Eric closes car door) Come here.
Greg: (walking to Eric) I can't do it, man... I just can't do it.
Eric: You can do it man... You love her. I know that. You know that. She knows that. Everyone in that fucking church knows that. You want to marry her. I can feel it.
Greg: But...
Eric: What do you think? You can do better? You don't deserve her? Shut the fuck up man. She's great. You won't ever find a girl better for you. And she's there waiting for you, so she thinks you're worthy of her.
Greg: That's not...
Eric: Look, man... I don't even care. You're gonna get married. If you don't do it for you, do it for me. I don't even fucking have a girlfriend. I only get happiness vicariously through you. If you don't get married today and fuck this up you will be miserable, and then i won't even have that. I am miserable on my own, Greg, I don't need your vicarious misery.
Greg: ...
Eric: Look, all I'm saying is... There's a gorgeous, fantastic woman inside that church, ready to live her life with you. I've known you since forever, and you have never had a girlfriend fitting the "gorgeous fantastic" category. You have never been happier in your life, why screw this up?
Greg: You're right... She is gorgeous. She does make me happy. You're right. Don't mind me, I'm just...
Eric: .. freaking out. I told you.
Greg: Yeah. (pause) Thanks man. (they hug. In the background, you notice a woman in a wedding dress making her way out of a window. Greg is teary eyed and looking down and not noticing this) You are the best.
Eric: Greg
Greg: No man, I have to say this. There's no way I would have survived this relationship without you.
Eric: Greg
Greg: Lemme finish. I am sorry I didn't pick you to be the best man but...
Eric: Greg (turning him) Isn't that Heather? (by now, Heather is out the window and standing up, dusting herself while looking first at the window and then around)
Greg: My Heather? What is she doing?
Eric: (Heather starts to run away) Running it seems.
Greg: But we are getting married in a minute. Where is she going?
Eric: I think away from the wedding.
Greg: Why would she do that?
Eric: Maybe she doesn't want to get married?
Greg: How can she not want to get married? This is not the time to not want to get married.
Eric: A second ago, it was you ready to make that dash. Shouldn't we run after her?
Greg: Shit! (starts running, Eric goes after camera follows them, Heather is a good 100 yards ahead of them. They only run for a short time, because she gets in a car, and the car starts moving shortly afterwards) Let's get the car!
(they turn around and run to the car. both of them run to the passenger door and look at each other) What you doing?
Eric: It's your car
Greg: You have the fucking keys.
Eric: (pulls out keys) Oh yeah. Here.
Greg: You drive.
Eric: But it's your car
Greg: YOU FUCKING DRIVE, SHE'S GETTING AWAY. (takes key, starts unlocking passenger door, Eric runs around) Here (tosses keys back to Eric. Eric drops them)
Eric: Shit.
Greg: Fuck, get the damn keys, get in, let's go.
Eric: Sorry. (gets keys, unlocks car, both enter, Eric turns car on and starts adjusting the seat)
Greg: What you doing?
Eric: I am adjus...
Greg: (turning the car on) JUST FUCKING GO!
Eric: (forgetting about the seat and concentrating on drive.) Oh yeah. sorry. (they take off).

cut to opening title sequence

(A drive thru. A car is at the food window. Dustin, a boy in his early twenty's is driving it. He is wearing jeans, and a striped bowling shirt. He's getting a couple of bags of food from the window and putting them behind his seat. There's a Britney Spears song on the radio, he drives off listening to it and singing along. The camera now should be in front of his windshield as he sings along to the song. He stops the car at what appears to be a stop light, but keeps on singing excitedly. His singing is interrupted when Heather bursts into the car through the passenger door, and closes the door behind her, pulling her wedding dress in. He stares at her. She looks quickly out the passenger window, and then turns to him).

Heather: Please just go.
Dustin: Huh.
Heather: Drive you little man, drive!
Dustin: This isn't a cab.
Heather: I DON'T HAVE TIME TO GET A CAB. (she looks up at the stoplight) IT'S GREEN GO!. (Dustin hurriedly starts to drive away. The car is silent now except for the Britney Spears song playing on the radio. While he drives off, she looks out the window, and then back. She then looks at him and at the radio.) Do we have to listen to this? (he turns the radio off. The car is just silent for a second as she puts herself together) Where are we going?
Dustin: (hurt) You didn't have to yell.
Heather: (sighing) I'm sorry. I'm sorry. I just needed to get out of there. Thanks for getting me out. Where are we going?
Dustin: School.
Heather: It's Saturday. What are you going to school for?
Dustin: College dorms. I live there.
Heather: Oh.
Dustin: I can drop you off somewhere on the way, I guess.
Heather: No... No... I'll just call a cab from there or something.
Dustin: Is there anywhere you need to go?
Heather: ...
Dustin: Like a wedding or something?
Heather: (looks at herself) Oh. Yeah. This... Well, it's... A long story.
Dustin: Did you run...
Heather: So what school you go to?
Dustin: (looks at her for a second) Woodbury.
Heather: ...
(car is silent for a second)
Dustin: So what's your name?
Heather: What do you care?
Dustin: Sorry just trying to...
Heather: It's Heather. You must be (looking at his shirt)... Anton
Dustin: ... (looks at her, then looks down at his shirt) Oh. Yeah. Anton. That's me.
Heather: Listen... Just drop me off at your dorms and I'll call a cab and be out of your way.
Dustin: ... Do you have any money on you?
Heather: (looks at herself again). Shit. No. (props her head against the car window) Shit. (closes her eyes, takes a deep breath) Shit. (bangs her head a couple of times against the window, stops, and begins to cry.).

(cut to car with Eric and Greg inside. camera is positioned on the backseat, seeing where they're going and what they're saying).

Greg: I can't believe you stopped the car at a yellow light.
Eric: It was yellow
Greg: We were on a car chase!
Eric: I thought there was a cop behind me.
Greg: It was a cab!
Eric: But I thought it was a cop.
Greg: It was a car chase! You don't stop on yellow during a car chase.
Eric: Sorry, I thought...
Greg: Well, you don't think during a car chase either. You just fucking drive.
Eric: Sorry, i've never been on a car chase before.
Greg: Me neither, but you just KNOW these things.
Eric: Next time...
Greg: Next time, next time my ass! How often do you think girls run out of weddings?
Eric: I don't think we can find them anymore
Greg: Of course not! You fucking stopped at a yellow light! What's the matter with you?
Eric: We can look for the car. What was it? A blue...
Greg: Fuck if I know. It was blue. We'd be following it if you hadn't fucking stopped.
Eric: I said i'm sorry.
Greg: yeah yeah. Just drive, maybe we'll find them.
Eric: Shouldn't we head back? Maybe she's back.
Greg: And what if she's not?
Eric: Well, ONE of you should show up for the wedding. I've never heard of a wedding where both the groom and the bride ran away.
Greg: I sure as hell ain't going back. I couldn't face all those people. What am I going to tell them?
Eric: I don't know. But maybe she's back.
Greg: How could she do that? Run out on me after all that you said?
Eric: She wasn't there listening to me.
Greg: WHO THE FUCK CARES!
Eric: I am just saying, I talked to you, not her.
Greg: Just shut the fuck up.
Eric: ...
Greg: I wouldn't even be in this trouble if you had just shut up in the first place. I'd be far from here and not worried about the fact she ran out of my wedding.
Eric: No?
Greg: No, i'd be worried about the fact I ran out of my wedding.
Eric: We can tell people you ran first.
Greg: Not if we go back.
Eric: Then let's not go back.
Greg: That's what I've been... WATCH OUT! (they both sort of duck, screen fades black, we hear screeching tires and a loud crash. pause. screen still black.) You okay?
Eric: (sounding hurt) yeah. you?
Greg: I'm all right.
Eric: Let's get out. (screen shows aerial view of the car crash. Greg and Eric come out of the car, their front all smashed in, a car with the side all smashed a few feet ahead of their car. during the conversation, the camera cuts to closer to the car).
Greg: What the fuck happened?
Eric: I think I ran a yellow light.
Greg: Shit. We weren't chasing anymore.
Eric: Or maybe it was red. I don't know.
Greg: Like it matters. Look at it (looking at car). I am so fucked. (looks at eric) Shit. You're bleeding. (Eric feels his forehead, and it's bleeding. Greg pulls a hankerchief from his tux pocket and puts it on Eric's forehead). Sit down, I'll check the other car. (Greg walks to the other car, the passenger side, looks in, then moves to the other side) Are you okay there? (the camera follows him, we see inside the other car is a woman in her 20s. She is crying).
fim do fragmento...

6.7.05

#4

Momento de crítico.
Uma das maiores falhas de qualquer público de um show de música ao vivo, para mim, é isentar a performance de erros. Não que eu ache que músicos não tenham o direito de errar -- não é isso. Mas da mesma forma em que se pode (e deve) sair de um jogo de futebol criticando o time de que não jogou bem, deve-se também sair de um show criticando o músico que não foi bem. Não se trata de uma falha imperdoável, mas nem por isso deixa de ser uma falha. O que ocorre, no entanto, não é isso. Acho que não tem um show em que fui em minha vida em que não ouvi ao sair alguém falando "esse foi o melhor show da minha vida" ou algo do tipo. Se foi realmente um show bom, tudo bem. Mas e quando o show é fraco? Quase sinto pena dessas pessoas, pois realmente desconhecem o que é boa música ao vivo.
Nunca fiz nenhuma pesquisa formal sobre o assunto, mas acredito ser fato que em qualquer show, pelo menos 50% do público sai acreditando que o show foi ótimo. Mais uns 40-45% sai pensando que o show foi ao menos muito bom. Resta então, em minha estimativa, menos de 10% que talvez tenha um senso crítico maior quanto ao show (essa porcentagem diminui homericamente para shows de Chiclete com Banana ou Emmerson Nogueira). Por que isso acontece? A minha teoria é simples -- endeusa-se a banda antes do show, e com isso se permite que qualquer que seja o resultado do show, a impressão é a mesma -- "foi um showzão". Muitos foram os shows fracos em que vi isso acontecer -- Belle & Sebastian, Page & Plant, Smashing Pumpkins, Lenny Kravitz... E mais recentemente White Stripes. Estes dois últimos acho mais grave ainda, pois era claro durante o show que a platéia estava meio perdida, sem entender aquilo, mas a reação final continou sendo igual -- "puta, mas que show!".
Vamos nos concentrar um pouco mais neste último show citado. A banda em si é exemplar. Conheço quem não goste, mas trata-se de uma banda que no cenário atual alternativo conseguiu se manter no topo por três albuns consecutivos, o que é algo difícil e louvável. Quantos não foram os Hives ou Vines que após um tremendo disco de exposição não conseguiram seguir com albuns a altura e se perderam no meio do mix de bandas alternativas? Até mesmo o Strokes, talvez o pioneiro neste cenário atual a atingir o mainstream, corre esse risco no próximo lançamento. No entanto, desde o pequeno estouro de Fell in love with a girl até a explosão atômica de Seven nation army, Jack e Meg White conseguem manter a relação de amor com os ouvidos alternativos, ao mesmo tempo em que conquistam as rádios e pistas de dança mainstream. Isto não ocorre sem méritos -- Jack White é uma figura singular, um tipo de Johnny Depp musical que reinventa a própria esquisitice sem perder a espontaneidade e sem se tornar algo com cara de produzido em massa e vendido (o que, por exemplo, parece ocorrer mais e mais com Coldplay). Jack cria tremendos riffs de guitarra, explora-os por todos os ângulos, e conta com a fiel escudeira Meg (que já foi esposa, irmã, e sei lá mais o que dele) para levar todas estas idéias excentricas para frente e fazê-las dar certo. Até aí, tudo bem. Então eles resolvem vir para o Brasil, logo antes do lançamento de um album novo. Marcam história ao se tornar a primeira banda de rock a tocar no Teatro Amazonas de Manaus, e se saem bem -- aparentemente foi um show histórico à altura do marco. Depois disso, eles seguem para o Rio de Janeiro, e então desembarcam em São Paulo aonde pude testemunhar o show deles.
O show começou bem -- atacaram de cara com músicas do conhecido Elephant, e umas outras do White blood cells. O público, que anseava pelo show, começou a pular logo nos primeiros acordes de Jack White. Na verdade, já pulava antes, com a mera presença do duo no palco. O começo foi a melhor parte do show -- tocaram com soberba energia I think I smell a rat e Dead leaves and the dirty ground. Mas logo essa energia se dissipou, e as músicas foram perdendo o pique. A platéia parou de pular, mas continuou aplaudindo e gritando em todas as músicas, cantando as que conhecia. Ao sentir esse pique caindo, Jack tentou se salvar -- entre músicas brincou com o público, fez comentários contra o desmatamento, contra a guerra. O público gritou e aplaudiu, fingiu que vibrou; mesmo sem talvez ter entendido os comentários de Jack. Mas o problema era na hora da música. Ficava claro que Jack e Meg não estavam com tanto pique, e as músicas soavam um tanto forçadas. Como muitas eram músicas novas, desconhecidas do público, este não pode ajudar, cantar junto e fazer vibrar, e acabou ficando nisso. Era um grupo fingindo que estava curtindo tocar, e uma platéia fingindo gostar de escutar. Para tentar gerar calor deste público, Jack vira e fala: "Hoje estamos fazendo um show diferente, tocando músicas não tão conhecidas, músicas além do programado. Espero que esteja tudo bem com vocês. Se não estiver, posso tocar Seven nation army e podemos todos ir para a casa". O público, é claro, protestou; mandou Jack seguir em frente. Puro poserismo. Jack improvisou, solou, duelou com Meg, e tudo isso deixou claro que a banda ao vivo nem sempre consegue segurar a falta de mais músicos como consegue em estúdio. Adoro improvisos ao vivo, mas este não era o dia de Jack, e tudo ficava arrastado demais, e cada novo improviso provava que Meg não está no mesmo nível de Jack -- ela estava mais perdida ainda, apesar do bom entrosamento entre os dois. Após mais ou menos uma hora de show, eles saíram do palco, e a platéia começou timidamente, por pura inércia, a pedir o bis. Não foi aquela chuva de aplausos e gritos, aquela vibração normal -- parecia ser algo cumprido por obrigação, como se uma luzinha no palco estivesse piscando "APLAUSOS". Depois de uns cinco minutos de descanso (tenho minha dúvidas que Jack realmente quisesse voltar), os dois voltaram e tocaram por mais vinte minutos. No "bis", puxaram uma última reserva de energia para emendar bem I just don't know what to do with myself, seguiram com o Seven nation army, que francamente Jack poderia peidar as notas no microfone e o público deliraria, tocaram uma música nova enquanto o povo ainda alucinava pela música anterior, e então foram embora. Menos de uma hora e meia de show -- isso por que Jack falou que ia tocar mais do que o programado. O público em geral, pensando em Seven nation army, saiu feliz, apesar de ter passado metade do show parado e perdido em meio a solos de xilofones e acompanhamentos de marimbas. Eu não. Fiquei extremamente frustrado pela falta de bons momentos de uma banda que tem como fazer melhor. Conversando com gente que foi no show, ouvi comentários do tipo -- "teve muita música do novo disco, que bom", "o público não estava entendendo a banda, mas eu tava", "a iluminação foi demais". Para mim, não passam de desculpas de pessoas que no fundo não gostaram do show também, mas justificaram de alguma forma para si mesmas que valeu a pena. Pessoas que já tinham decidido que gostariam do show antes mesmo dele começar, e portanto gostaram, mesmo não tendo gostado. Somente assim posso entender esse fenômeno, essa noção de que os músicos bons em estúdio não tem como errar ao vivo. Não só tem, como erram -- e o White Stripes errou aqui em São Paulo. Continuarei gostando deles -- como já disse trata-se de um erro perdoável -- mas isso não isenta o erro.
Ouço comentários de que outras grandes bandas do circuito alternativo estão vindo para o Brasil no segundo semestre. Franz Ferdinand, Strokes, Wilco. Pensando agora, são bandas cujos shows são, presumidamente, imperdíveis. Espero que ao sair de qualquer um destes shows, eu continue com essa impressão -- esse foi um show imperdível. Não preciso sair dizendo que foi o melhor show da minha vida (até por que este é um degrau de difícil escalada dada minha experiência com shows), mas gostaria de ver shows de músicos que provem no palco que são imperdíveis, não pelo fato de estarem lá ao vivo, mas pela qualidade da música, pela energia da banda. Em suma -- espero que estas bandas não errem. Pelo menos não no dia em que eu estiver lá para ver.

5.7.05

#3

fragmento de uma peça incompleta...

(entra em cena um cara baixinho, um tanto gordinho. usa chapéu, e um sobretudo, mas não aparenta ter nada em baixo do sobretudo, pois podemos ver parte de seu peito, que é extremamente peludo. o baixinho pára no centro do palco e olha em volta. ao olhar para a platéia, demonstra surpresa e olha de novo, espremendo os olhos. se espanta novamente. sai correndo para fora de cena. neste momento, ilumina-se um canto do palco, e vemos uma mesa dessas de boteco, com quatro pessoas sentadas em volta dela. dois estão de bermuda, camisa de turista, bonézinho com aba para trás, como se fossem estudantes que freqüentam mais os botecos da faculdade do que as aulas. os outros dois são totalmente diferentes, alinhados, usando o mesmo terno e gravata, e cartolas iguais. são altos, mais ainda com as cartolas, e aparentam ter exatamente o mesmo tamanho. um dos engravatados distribui as cartas, vira uma na mesa -- nesse momento alguém da mesa fala em meia-voz "virou o valete" -- e o jogo se inicia. cada um segura três cartas na mão inicialmente, e aos poucos vão descartando até chegar a vez de um dos engravatados, que para e pensa. durante o desenrolar da cena subseqüente, uma luz vermelha vai tomando conta do palco vagarosamente, e no final tudo no palco está vermelho.)


ENGRAVATADO 1: Eu creio, caros amigos, que é hora de eu pedir truco.

(os dois "estudantes" se olham, sorriem, e um deles pula da cadeira)

ESTUDANTE 1: SEIS!!! É SEIS MARRECO, SEIS NA CABEÇA!!!!!

(os engravatados se olham desconfiados.... pensam um pouco e então...)

ENGRAVATADO 2: Meu caro colega, devo então insistir com minha aposta, e aumentar o lance para um nove.
ESTUDANTE 2: DOZE ENTÃO CARAIO!!! É doze! Dúzia na cabeça do marreco!!!! Vai ficar ou vai cair???

(neste momento entra correndo do outro lado do palco o baixinho gordinho da primeira cena. ele vem bufando, gritando com todo o fôlego que lhe resta)

BAIXINHO: Sá!!! Lú!!! Sá!!! Lú!!! Vocês tem que ver isso!!! Vocês tem que ver!!!

(ele alcança a mesa, e repirando fundo, cambaleia para os lados)

ENGRAVATADO 1: (se dirigindo ao baixinho) O que foi Bel Zé?
BEL ZÉ: Sá!!! Tenho que te mostrar um negócio... Isso você tem que ver!!!
SÁ: O que é, Bel Zé? Desembucha! Eu tou ocupado.
BEL ZÉ: Não Sá... (se vira para o outro engravatado) Lú... Isso é importante, vocês tem que ver!
LÚ: Estamos no meio de um jogo Bel Zé! Não dá pra deixar essas coisas de lado pra você mostrar um pecadinho qualquer...
BEL ZÉ: Esse não é um pecadinho qualquer, Lú! Tenho que mostrar isso pra vocês!
SÁ: Ai, meu d... Err... Que droga, Bel Zé! Estamos apostando a alma desses caras aqui!
ESTUDANTE 1: UMA DÚZIA SEUS MARRECOS!!! VÃO CAIR OU NÃO?
BEL ZÉ: (puxando Sá e Lú para longe da mesa) Vocês não aprenderam nada depois dos dados do holandês? Ainda querem apostar almas?
SÁ: Nem me fala desse maldito holandês! Mil anos perdidos... Ainda bem que sou eterno e o tempo para mim não existe.
ESTUDANTE 2: O MARRECO TÁ COM MEDO DE CAIR...
ESTUDANTE 1: TÁ COM MEDO QUE A CARTOLA DELE VAI CAIR COM O ZAP AQUI NA MINHA MÃO!!!
LÚ: Bel Zé, deixe-nos terminar com isso e já vamos.
SÁ: Sim... deixe-nos terminar...
BEL ZÉ: Sejam rápidos...
LÚ e SÁ: Pode deixar.
SÁ: (se virando para os estudantes) Grandessíssimos rivais. Me perdoem a interrupção. Meu pequeno amigo desconhece a etiqueta de jogo, francamente uma falta de decoro de nossa parte...
LÚ: Sim, imperdoável de nossa parte, realmente. Creio, no entanto, que aceitaremos seu desafio...
ESTUDANTE 1: HAHAHAHA!!! Então tome ZAP! (bate com uma carta na testa de Sá)
ESTUDANTE 2: E COPETA!!!! (bate com outra carta na testa de Lú. Assim como em Sá, as cartolas caem da cabeça, e os estudantes comemoram, os engravatados com cartas presas as testas)
ESTUDANTES: MAIS UMA VEZ GANHAMOS DESSES MARRECOS!!! Hahahahah!
SÁ: Mas será que ganharam? (pegando a cartola do chão)
LÚ: Creio que não ganharam... (pegando a cartola do chão)
(os estudantes param de comemorar).
SÁ: (tirando a carta da testa) não... por que isso aqui é um rei...
LÚ: (tirando a carta da testa) assim como esse...
ESTUDANTE 1: Mas o rei é manilha, virou o valete... ´
LÚ: Não, meu rapaz... Creio que virei uma dama... (recolocando a cartola)
ESTUDANTE 2: Não, era valete eu lembro bem...
SÁ: Talvez devam olhar novamente, meus bons amigos. (recolocando a cartola. os dois estudantes olham, e ficam boquiabertos)

ESTUDANTES: (se revezando) não! mas era valete! não era? eu tinha rei! eu tinha zap! casal maior! nós ganhamos!

SÁ: Sinto informar, caros oponentes mas nós vencemos esta rodada...
LÚ: E contrato é contrato...
SÁ: Uma derrota para nós e suas almas nos pertencem...
LÚ: A não ser que ganhem por mil anos seguidos...
SÁ: Mas que pena... Passaram-se apenas novecentos e noventa e nove anos...
LÚ: trezentos e cinqüenta e quatro dias
SÁ: vinte e três horas e cinqüenta e nove minutos...
LÚ: Acho que isso significa...
SÁ: De acordo com nosso contrato...
LÚ: Que nós ganhamos...
SÁ: Então...
LÚ: Caros amigos...
SÁ: TOME ZAP (dá um peteleco na testa de um estudante)
LÚ: E COPETA (dá um peteleco na testa do outro -- com os petelecos, os dois estudantes desaparecem em fumaça)

SÁ e LÚ: MARRECOS!!! (risadas malévolas)

BEL ZÉ: Vocês são crianças mesmo...
SÁ: Ah, Bel Zé... Deixa disso! Esses mereciam.
LÚ: Sim... Ninguém ganha de um maço como nosso.
SÁ: Com nossa especialidade...
LÚ: O valete-hermafrodita!!! (risadas malévolas novamente)

BEL ZÉ: Bom, terminaram?
LÚ: Você é muito sem graça, Zé.
SÁ: É mesmo... Mas e aí... O que é tão importante que não podia nem esperar nosso joguinho?
BEL ZÉ: Venham comigo... Vocês vão se arrepiar...

(os três saem do palco)

fim do fragmento... haverá mais?