26.7.05

#25

"O cargo foi preenchido." Essas eram as palavras deles, não as minhas. De centenas, talvez milhares de pessoas, eu fui o escolhido. Com um breve olhar, eles acharam que eu era a pessoa certa para o cargo. Mas qual cargo?

Nem sabia ao certo se era um cargo mesmo. Na verdade só sabia que se pagava bem; pelo menos era o que prometia o anúncio. E eu precisando da grana do aluguel, essa informação era talvez a mais importante. Poderia dizer: "Precisa-se de colhedores de fezes de animais de grandes porte com predilência para feijão. Paga-se bem." Já me convenceria. Não que eu tenha medo do senhorio, ou de atrasar o aluguel. Mas sempre fui um cara certinho, daqueles que sempre está lá para todos. Recentemente, a maré de azar e a crise geral me transformou em um cara que não estava mais lá, um cara que falhava com os compromissos e não pagava dívidas. Não queria ser esse cara; gostava de ser o banana de antes. Por que na verdade, eu ainda era um banana, mas um banana sem grana e sem motivação. Achei que então essa seria a virada, e tudo ia muito bem. Afinal, eu preenchi o cargo.

A sala estava escura e mãos aleatórias vinham de encontro com a minha me cumprimentar, me dar os parabéns. "Perfeito, você é o perfil que precisávamos," diziam, enquanto chacoalavam meu braço. Eu não via ninguém direito, apenas silhuetas. Algumas magras, outras gordas, outras carecas e umas poucas mais cabeludas aparentando jovialidade. Os apertos de mão eram firmes e fortes, e as congratulações eram cheias de sorriso. Com tanto vigor ao meu redor, nem me preocupei muito. Apenas estava feliz em saber que ainda servia para alguma coisa.

Daquela sala escura me levaram para o começo de um longo corredor. Me falaram para seguir em frente, e para entrar na porta ao final aonde eu receberia meu treinamento. Pensei em perguntar sobre um adiantamento, mas achei que seria melhor esperar e perguntar durante o treinamento. Segui o corredor, e aos poucos foram aparecendo luzes que iluminavam o caminho. Haviam portas de vidro ao longo do corredor, e atrás delas eu via escritórios modernos com pessoas trabalhando, discutindo, se reunindo... Parecia alguma grande corporação. As vezes essas grandes empresas tomam cuidado na divulgação de novas vagas, sabendo que a mera menção do nome delas pode trazer não só uma enxurrada de gente não-capacitada, mas também protestantes anti-capitalistas afim de transformar qualquer evento em campo de guerra. Comecei a achar a coisa toda mais normal, vendo aquele pessoal todo trabalhando. Finalmente, então, cheguei na última porta. Esta não era de vidro. Era uma porta maciça, de algum metal; pintada de marrom para parecer madeira. Nela, estava uma plaquinha azul fina, com a incrição "sala de treinamento" talhada em branco. Bati na porta, e não obtive resposta. Hesitei por um momento, olhando em volta para ver se havia alguém vindo. Ninguém. Resolvi tentar a maçaneta e abrir a porta. Não estava trancada, então entrei.