13.7.05

#11

"I wouldn't want a heart that's been dented by you."
-- The Thrills

Desligou o telefone chorando. Não era a primeira vez, mas talvez fosse a última. Ao menos a última que desligaria por esse mesmo motivo. Brigas e brigas depois, não entende como continua dando importância à aquela pessoa que já não quer mais saber dele. Mas acabou de desligar e queria ligar de novo. Não tinha pensado em um argumento novo, nem ao menos tinha esquecido de dizer algo -- queria apenas repetir o que já havia dito para ver se dessa vez o argumento passava. Tanto tempo juntos...

Lágrimas são comuns em relacionamentos. Sabia disso. A freqüência delas as vezes pode indicar como andam as coisas, e se fosse esse o termômetro estava tudo muito mal. Ela queria seguir em frente, mudar de vida; dizia que não agüentava mais as diferenças entre os dois, que não eram compatíveis. Mas ele só pensava em como sorriam livremente alguns meses antes. Como qualquer contato entre os dois era do tipo que libertava as almas e deixava os corpos livres para se amarem. Pensava em como ela era diferente. Ela mudou, é verdade. Mas nada conseguia racionalizar tudo acima do que era evidente -- ele sentia a falta da presença física dela, dos abraços, dos beijos, do sexo. Não era possível separar essas coisas dela mesma, seja ela a antiga namorada dedicada ou a briguenta que agora aparecia e que não queria nem falar ao telefone. Era mais trabalhoso, mas as vezes ainda conseguia aquele abraço, aquele beijo... E achou que era uma fase. Repetia para si mesmo, para ela, para todos que conhecia... É uma fase e precisamos passar por isso. Ela não aceitou o argumento. Não vamos passar dessa fase. Game over.

E o que resta então? Além das lágrimas deve haver algo mais digerível. Mas isso está tudo tão distante... Quer ligar para ela de novo, não pode. Precisa de algum consolo. Algum abraço. Se não o dela, o de alguém, para ao menos sentir que pode separar isso dela. Mas não pode. Beijou outras, e não adiantou. Continuou querendo os beijos dela. Dormiu com outra e não adiantou. Queria mesmo o sexo com ela. Era amor, tinha certeza disso. Se fosse só físico seria só transar com outra e esquecer dela. Talvez estivesse enganado, mas como pode tanta certeza vir de um engano? As vezes nos enganamos...

Continuou despejando lágrimas, continuou querendo ligar. Ligar pra que? Para brigar com ela? Para saber que ela não está nem aí? Se ela se importasse ela teria ligado. Toca o telefone, corre para atender; dever ser ela. Não, não estou interessado em uma segunda linha telefônica. Uma só já dá agonia o suficiente. Não é preciso de duas vias para ela não me ligar.

Um dia, ela ligou. Conversaram pouco, não descobriram muito um sobre a vida do outro. Mas quando desligou não voltou a chorar. Progresso. Mais a noite, vendo um filme qualquer na tevê, sentiu as lágrimas forçando passagem. De volta à estaca zero. Não há remédio para isso, somente o tempo. Muitas vezes nem isso, apenas se acostuma com a tristeza e vira pano de fundo. Acontece com todo mundo, não seria e nem foi diferente com ele. Final feliz? Procure uma novela. Aqui, sofremos e procuramos sofrimento. E a felicidade continua sendo elusiva. Elusiva, mas não impossível. As vezes sorria, e sorria de verdade, sorrisos sinceros, que não tinham nada a ver com ela. E o futuro? Traria mais sorrisos, e também mais lágrimas. Mas ao menos não seriam mais por ela. Não no futuro. Essas de agora, essas são por ela.